Thursday 22 May 2008

tomates, poesia, infanticídio e outras palavras avermelhadas...



CULTIVANDO A POESIA

outrora
(verdes)
folhas envelhecidas
(amarelas)
penduravam-se pela ordem alfabética dos jornais que calavam sobre o roubo
do ouro

e sobre a fome de poesia

os jornais apenas farfalhavam
sobre a criança morta

no jardim

de repente, brotaram das veias
dos nomes
das coisas

versos vermelhos
como tomates que ninguém atirou
para suplantar o poema


tela -> Karen Cooper: Tigela azul larga de tomates excessivamente maduros
texto -> Johnny Martins

Friday 9 May 2008

as pessoas e as coisas




A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a ofendida
Violeta, monumento de uma tarde,
De certo inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas e taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão muito além de nosso olvido:
E nunca saberão que havemos ido.

texto -> Jorge Luis Borges (1899-1996): As coisas
Imagem-> René [François Ghislain] Magritte (1898-1967): A condição humana (1933)

Friday 2 May 2008

un río caudaloso



Chorreándose en el cuerpo de mi hombre,
mi amor toca tambor y flauta
en las montañas de mi tierra,
dispara con ametralladora
su descarga de besos.
Es un amor de guerra
con «adiós» y «nos vemos»
un amor con señales de humo
-a lo lejos-
un amor para llevarse en mochilas
para andar clandestino
por ciudades y valles.
Es un amor para cantar victoria,
para llorar heridos
y aprender de derrotas.
Mi amor es bien contento
aunque -a veces- me haga brotar el llanto
es grande como la esperanza
y el valor de mi pueblo;
tiene olores de finca
huele a tierra mojada y campo.
Mi amor es fiero,
ardiente como la libertad,
no conoce de tiempo,
anda dentro de mí
desbocado y rebelde.
Me ha llenado de luz
y lo llevo cargado como un fusil al hombro
lloro y río por él
por este amor hermoso,
claro, como tus ojos.

texto -> Gioconda Belli (1948): Mi Amor Es Como Un Río Caudaloso
imagem -> Claude Monet (1840-1926): Le Bassin Aux Nymphéas (1899)